A palavra ‘abundância’ enche-me o coração. Ela sereniza o meu gosto natural pela megalomania. Da-lhe aquele sabor doce da plena satisfação de ter tudo o que preciso e que nada me faz falta .
Mas, e a falta que tudo nos faz?
Só a força da gratidão pode-nos salvar. O poder genuíno de sentir um coração cheio de tudo e não a lamentação de uma mão cheia de nada.
De repente torna-se essencial valorizar o que temos de essencial na vida. De repente torna-se vital evoluir sem precisar de lutar e não resistir à constante desestruturação. De repente o óbvio premia o essencial, como, obviamente, o ar que precisamos de respirar. O oxigénio sempre foi óbvio mas a arte de respirar tornou-se essencial.
Cada um tem os seus essenciais, e isso não tem humildade a menos, nem megalomania a mais. São os nossos essenciais, e a palavra ‘nosso’ já diz tudo: indiscutível, inquestionável e imensurável.
E de repente são de essenciais que vivemos: – Quem temos do nosso lado e como vamos lidar com a constante manifestaçāo do que somos? – O que temos dentro do frigorífico e o que faremos com aquilo para jantar?
E de repente os essenciais manifestam-se abundantemente. E de repente é o essencial que faz a vida valer a pena.
Continua…