pontos na caderneta do karma.

Hora: Uma manhã de Domingo

Local: Cama 

O ritual dos domingos morrinhentos é sagrado, quase como quem vai para missa no Domingo. Tem que se demorar a acordar, para balancear todos os minutos que não demos ao despertador em todos os outros dias da semana. Quando ficas aborrecido, ai sim, levantaste e preparas aquele banquete-piquenique nos lençóis. Mas nesse dia, ele contrariou a preguiça do domingo e fez-la numa linda segunda feira de folga. Foi-se à vida, que literalmente consiste em alapar-se naquela esplanada à beira mar e fazer o piquenique na mesa com tudo a que tem direito.

O Universo tem uma lei qualquer, que agasalha os que mudam, se mudam e não se conformam, e desiste dos que se retraem. Digo uma ‘lei qualquer’ porque ainda não foi descoberta. Assim que for descoberta, dar-lhe-ão um nome. Até lá, baseio-me em observação e experimentação que nem um cientista da vida quântica.

Quem não salta fora da inércia, ou da vontade de fazer sempre o mesmo, como o de fazer sempre o mesmo num domingo de manhã, o universo não dá presentes nenhum. Agora, contrarias uma disposição, e o universo enche-te de mimos. Quanto mais te expões mais te gracia.  Ninguém espera agarrar algo nas mãos de punho cerrado, certo? Ninguém espera receber um abraço de braços fechados certo? Tens que afastar primeiro os braços, expor o peito, para o poderes receber. Na vida é igual. 

Ele, inconscientemente, mas instintivamente, o fez. A esplanada estava cheia, para uma hora madrugadeira de domingo, reunindo os audazes de domingo, que fazem dele uma segunda-feira de trabalho em prol próprio, dedicada a reuniões e brainstormings internos. Aquela esplanada era como a reunião da empresa dos depravados para a vida. Era só pessoas felizes: primeira prenda do universo. 

Aquele tosta chegou à mesa, macia, mas estaladiça, perfeitamente tostada como um perfeito tom de pele, suavemente hidratada com manteiga. Fez água na boca de tanto deleite. O cheiro do café foi o êxtase, o corpo acordou de ereção, as células antecipavam a dose de cafeína que aí vinha. Era puro prazer dos sentidos olfato-gustativo: 2a prenda do universo.

Aqueles momentos com ele mesmo, fizeram-no sentir tão completo, tão pleno. Normalmente precisava de sair de casa, para ter gente à volta, e a casa era o refúgio, mas nunca tinha percebido a imensidão boa da solidão. O estar só pode ser tão intimamente preenchido como um jantar de sábado à noite com amigos. Sentiu-se imensamente completo, como se aquele instante se bastasse, ele se bastasse, auto-suficiência genuína: 3a prenda do universo. Dia ganho, 5 pontos na caderneta do karma.

Leave a Reply